por Geração Maranata
O estudioso de escatologia tem como questão mais importante o método de interpretação das profecias na Bíblia.
Os diferentes métodos de interpretação produziram as várias posições escatológicas existentes.
Por exemplo, a diferença básica entre Amilenistas e Pré-Milenistas não é se as Escrituras ensinam um Reino terreno, como ensina o Pré-Milenistas, mas como os versículos que ensinam esse Reino terreno devem ser interpretados. Portanto, antes de qualquer debate sobre as passagens proféticas e sobre as doutrinas escatológicas, é preciso estabelecer o método básico de interpretação.
I. O Método Alegórico
Um antigo método de interpretação que reavivou nestes últimos tempos é o método alegórico.
Qualquer declaração de supostos fatos que aceita interpretação literal e, no entanto, requer ou simplesmente admite interpretação moral ou figurada, é chamada alegoria. É para a narrativa ou para a história, o que as figuras de linguagem são para as palavras simples, adicionando ao sentido literal dos termos empregados um sentido moral ou espiritual.
Às vezes a alegoria é pura, ou seja, sem referência direta à sua aplicação, como na história do filho pródigo. Às vezes é mista, como no Salmo 80, em que simplesmente se insinua que os judeus são o povo que a videira tem por objetivo representar. (Salmo 80:17)
Alegorização é o método de interpretar um texto literário, considerando o sentido literal veículo para um sentido secundário, mais espiritual e mais profundo.
Nesse método, o significado histórico é negado ou desprezado, e a tônica recai inteiramente num sentido secundário, de modo que as palavras ou os acontecimentos primeiros têm pouco ou nenhum significado.
Os perigos do método alegórico
1) O primeiro grande perigo do método alegórico é que ele não interpreta as Escrituras. Existe uma liberdade ilimitada para a fantasia, basta que se aceite o princípio, e a única base da exposição encontra-se na mente do expositor.
2) A citação anterior deixa prever, também, um segundo grande perigo no método alegórico: a autoridade básica da interpretação deixa de ser a Bíblia e passa a ser a mente do intérprete. A interpretação pode então ser distorcida pelas posições doutrinárias do intérprete, pela autoridade da igreja à qual ele pertence, por seu ambiente social e por sua formação ou por uma enormidade de fatores.
3) Um terceiro grande perigo do método alegórico é que não há meios de provar as conclusões do intérprete.
Afirmar que o principal significado da Bíblia é um sentido secundário e que o principal método de interpretação é a "espiritualização" é abrir a porta para imaginação e especulação. Por essa razão, entende-se que o controle na interpretação se encontra no método literal.
Assim, os grandes perigos inerentes a esse sistema são a eliminação da autoridade das Escrituras, a falta de bases pelas quais se podem averiguar as interpretações, a redução das Escrituras ao que parece razoável ao intérprete e, por conseguinte, a impossibilidade de uma interpretação verdadeira das Escrituras.
II. O Método Literal
Em oposição direta ao método alegórico de interpretação encontra-se o método literal.
O método literal de interpretação é o que dá a cada palavra o mesmo sentido básico e exato que teria no uso costumeiro, normal, cotidiano, empregada de modo escrito, oral ou conceitual.
Chama-se método histórico-gramatical para ressaltar o conceito de que o sentido deve ser apurado mediante considerações históricas e gramaticais.
O sentido "literal" de uma palavra é o seu significado básico, costumeiro, social. O sentido espiritual ou oculto de uma palavra ou expressão é o que deriva do significado literal e dele depende para sua existência.
Interpretar literalmente significa nada mais, nada menos que interpretar sob o aspecto do significado normal, costumeiro. Quando o manuscrito altera seu significado, o intérprete imediatamente altera seu método de interpretação.
Evidências a favor do método literal
Em defesa da abordagem literal, podemos sustentar que:
a) O sentido literal das frases é a abordagem normal em todas as línguas.
b) Todos os sentidos secundários de documentos, parábolas, tipos, alegorias e símbolos dependem, para sua própria existência, do sentido literal prévio dos termos.
c) A maior parte da Bíblia tem sentido satisfatório se interpretada literalmente.
d) A abordagem literalista não elimina cegamente as figuras de linguagem, os símbolos, as alegorias e os tipos; no entanto, se a natureza das frases assim exigir, ela se presta prontamente ao segundo sentido.
e) Esse método é o único freio sadio e seguro para a imaginação do homem.
f) Esse método é o único que se coaduna com a natureza da inspiração. A inspiração completa das Escrituras ensina que o Espírito Santo guiou homens à verdade e os afastou do erro. Nesse processo, o Espírito de Deus usou a linguagem, e as unidades de linguagem (como sentido, não como som) são palavras e pensamentos. O pensamento é o fio que une as palavras. Portanto, nossa própria exegese precisa começar com um estudo de palavras e de gramática, os dois elementos fundamentais de toda linguagem significativa.
Visto que Deus concedeu Sua Palavra como revelação ao homem, teria de esperar que Sua revelação fosse dada de forma tão exata e específica que Seus pensamentos pudessem ser comunicados e entendidos corretamente quando interpretados segundo as leis da linguagem da gramática. Tomada como evidência, essa pressuposição favorece a interpretação literal, pois um método alegórico de interpretação turvaria o sentido da mensagem entregue por Deus ao homem.
O fato de que as Escrituras continuamente remetem para interpretações literais serve de prova adicional quanto ao método a ser empregado para interpretar a Palavra. Talvez uma das evidências mais fortes a favor do método literal seja o uso que o Novo Testamento faz do Antigo. Quando o Antigo Testamento é usado no Novo, só o é em sentido literal. Basta estudar as profecias que foram cumpridas na primeira vinda de Cristo — em Sua vida, em Seu ministério e em Sua morte — para comprovar esse fato.
Nem uma profecia sequer, dentre as que se cumpriram plenamente, foi cumprida de outro modo que não o literal. Embora possa ser citada uma profecia no Novo Testamento como prova de que certo acontecimento cumpre de modo parcial uma profecia (como em MT 2.17,18), ou para mostrar que um acontecimento está em harmonia com o plano preestabelecido de Deus (como em At 15), isso não torna necessário um cumprimento não literal, nem nega um cumprimento completo no futuro, pois tais aplicações da profecia não exaurem o seu cumprimento. Portanto, essas referências à profecia não servem de argumentos a favor de um método não literal.
Com base nessas considerações, conclui-se que há evidências de apoio à validade do método literal de interpretação.
As vantagens do método literal
Há várias vantagens neste método que o torna preferível em relação ao alegórico:
a) Baseia a interpretação em fatos. Procura estabelecer-se sobre dados objetivos — gramática, lógica, etimologia, história, geografia, arqueologia, teologia.
b) Exerce sobre a interpretação um controle semelhante ao que a experiência exerce sobre o método científico, a justificação é o controle das interpretações. Qualquer coisa que não se conforme aos cânones do método literal-cultural-crítico deve ser rejeitada ou vista com suspeita. Além disso, esse método oferece a única fiscalização fidedigna para a constante ameaça de aplicar uma interpretação de duplo sentido às Escrituras.
c) Tem obtido o maior sucesso na exposição da Palavra de Deus. A exegese não começou a sério até a igreja já ter mais de um milênio e meio de idade. Com o literalismo de Lutero e de Calvino, a luz da Escritura literalmente se acendeu. Esse é o aclamado método da alta tradição escolástica do protestantismo conservador. É o método de Bruce, Lightfoot, Zahn, A. T. Robertson, Ellicott, Machen, Cremer, Terry, Farrar, Lange, Green, Oehler, Schaff, Sampey, Wilson, Moule, Perowne, Henderson Broadus, Stuart — para citar apenas alguns exegetas típicos.
Além dessas vantagens, pode-se acrescentar que este tipo de interpretação nos fornece uma autoridade básica por meio das quais, interpretações individuais podem ser postas a prova.
O método alegórico, que depende da abordagem racionalista do intérprete ou da conformidade a um sistema teológico predeterminado, deixa-nos sem uma verificação autorizada por base. No método literal, uma passagem da Escritura pode ser comparada a outra, pois, como Palavra de Deus, tem autoridade e é o padrão pelo qual toda verdade deve ser testada.
Com respeito a isso, pode-se observar que o método nos livra tanto da razão quanto do misticismo como requisitos da interpretação. Não é necessário depender de treinamento ou de capacidade intelectual, nem do desenvolvimento de percepção mística, e sim da compreensão do que está escrito em sentido comumente aceito. Somente sobre esse fundamento o leitor médio pode compreender e interpretar as Escrituras por si mesmo.
O método literal e a linguagem figurada
Todos reconhecem que a Bíblia está repleta de linguagem figurada. Com base nisso, muitas vezes afirma-se que o uso de linguagem figurada exige interpretação figurada.
No entanto, figuras de linguagem são usadas como meios de revelar verdades literais. O que é literalmente verdadeiro em determinado campo, com o qual se esta familiarizada; é transposto literalmente para outro campo, com o qual talvez não se esteja tão familiarizado, para ensinar alguma verdade nesse campo menos conhecido.
Se as palavras são empregadas em seu significado natural e primitivo, o sentido que expressam é o seu sentido literal estrito. Por outro lado, se são empregadas com um significado figurado e derivado, o sentido, embora ainda literal, é geralmente chamado metafórico ou figurado. Por exemplo, quando lemos em João 1.6 "Houve um homem […] cujo nome era João", é óbvio que os termos ali empregados são tomados estrita e fisicamente, pois o escritor fala de um homem real, cujo nome real era João. Por outro lado, quando João Batista, apontando para Jesus, disse: "Eis o Cordeiro de Deus" (Jo 1.29), também é claro que ele não usou a palavra "cordeiro" no mesmo sentido literal estrito que teria excluído toda metáfora ou figura de linguagem e denotado um cordeiro real: o que ele queria imediata e diretamente comunicar, isto é, o sentido literal de suas palavras, é que no sentido derivado e figurado Jesus podia ser chamado "Cordeiro de Deus". No primeiro caso, as palavras foram usadas em sentido literal estrito; no segundo, em sentido metafórico ou figurado.
O fato de os livros das Sagradas Escrituras terem sentido literal (estrito ou metafórico), isto é, sentido imediata e diretamente pretendido pelos escritores, é uma verdade tão clara em si mesma e ao mesmo tempo tão universalmente aceita, que seria inútil insistir nela aqui.
Será que alguma passagem das Sagradas Escrituras tem mais que um sentido literal? Todos admitem que, uma vez que os livros sagrados foram compostos por homens e para homens, seus autores naturalmente conformaram se a mais elementar regra dos relacionamentos humanos; que exige que apenas um sentido preciso seja imediata e diretamente pretendido pelas palavras de quem fala ou de quem escreve.
O literalista não nega a existência de linguagem figurada. Porém, ele nega que tais figuras devam ser interpretadas de modo que destruam a verdade literal pretendida pelo emprego das figuras. A verdade literal deve ser informada por meio dos símbolos.
Algumas objeções ao método literal
1) A linguagem da Bíblia muitas vezes contém figuras de linguagem. É o caso, sobretudo, da poesia. Na poesia dos Salmos, no estilo elevado da profecia e mesmo na simples narrativa histórica surgem figuras de linguagem que obviamente não tinham o propósito de ser entendidas literalmente.
2) O grande tema da Bíblia é Deus e Seus atos redentores para com a humanidade. Deus é Espírito; os ensinos mais preciosos da Bíblia são espirituais, e essas realidades espirituais e celestiais são muitas vezes apresentadas sob a forma de objetos terrenos e relacionamentos humanos.
3) O fato de que o Antigo Testamento é ao mesmo tempo preliminar e preparatório ao Novo Testamento é tão óbvio que dispensa prova. Ao remeter os crentes de Corinto, a título de advertência, aos acontecimentos do Êxodo, o apóstolo Paulo declarou que aquelas coisas lhes haviam sobrevindo como "exemplos" (tipos). Isto é, prefiguravam coisas por vir. Isso confere a muito do que está no Antigo Testamento significância e importância especiais. Tal interpretação reconhece, à luz do cumprimento no Novo Testamento, um sentido mais profundo e muito mais maravilhoso nas palavras de muitas passagens do Antigo Testamento do que aquele que, tomadas em seus antecedentes veterotestamentários, elas parecem possuir.
Em resposta ao primeiro desses argumentos, é necessário reconhecer o uso bíblico das figuras de linguagem. Como se ressaltou previamente, as figuras de linguagem podem ser usadas para ensinar verdades literais de maneira mais vibrante que as palavras corriqueiras, mas nem por isso exigem interpretação alegórica.
Com respeito ao segundo argumento, embora se reconheça que Deus é um ser espiritual, a única maneira pela qual Ele poderia revelar a verdade de um Reino, no qual ainda não entramos, seria traçando um paralelo entre esse Reino e o Reino em que agora vivemos. Por meio da transferência de algo que é literalmente verdadeiro no Reino conhecido para o Reino desconhecido, este nos será revelado. O fato de Deus ser espiritual não exige interpretação alegórica. E preciso distinguir entre o que é espiritual e o que é espiritualizado.
Por fim, com respeito à terceira objeção, embora se reconheça que o Antigo Testamento é preditivo, e que o Novo desenvolve o Antigo, a plenitude não é revelada no Novo por meio da alegorização do que é tipificado no Antigo; é revelada, isto sim, pelo cumprimento literal e pelo desenvolvimento da verdade literal dos tipos. Estes podem ensinar verdade literal, e o uso de tipos no Antigo Testamento não serve de apoio para o método alegórico de interpretação.
Livro pesquisado: Manual de Escatologia de Dwight Pentecost